Menu

sábado, julho 16, 2011

Na contramão dos direitos humanos

Não é incomum que ex-namoradas de jogadores de futebol fiquem "famosas", muitas após pousarem nuas para revistas masculinas (já que, generalizando, todas são modelo). 
Mas uma fez algo diferente: a argentina Natalia Fassi, ex do jogador Carlos Tévez, resolveu fotografar para a campanha anti-aborto de uma deputada evangélica.
A campanha, entitulada "Valores para meu país", usa imagens da modelo (que está grávida, a propósito) sangrando - com hemorragia, simulando um suposto abortamento e bonecos desmembrados se passando por fetos.

As fotos da campanha estão chocando até os pró-vida alheia, de acordo com a notícia lida originalmente no endereço do Opera Mundi (clique para ler a matéria na íntegra).
Agora o que eles esqueceram de focar, foi na saúde dessa suposta mulher que abortou.
Pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo XII "ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada [...] nem a ataque a sua honra e reputação". O que vemos SEMPRE são mulheres que fazem uma decisão de foro íntimo - afinal, a VIDA ainda é questão de intensos debates no mundo científico - serem desrespeitadas, chamadas de "vadias" para baixo e sem o direito previsto em Lei de serem tratadas com respeito e com a devida atenção médica.
Pelo visto ninguém está preocupado com a saúde física e mental da mulher - e também da família dela e dos envolvidos, nos casos de gravidez resultante de estupros, má formação como este caso aqui (clique para ler e ver fotos). Me digam se é necessário alguém passar por isso???

Nessa carta de direitos humanos, percebe-se claramente que o termo "pessoa" é designado ao indivíduo fora do útero e em condições de sobreviver sem ele. Não precisa ser um expert em interpretação de texto para entender isso. O que cabe a toda a população é respeitar (como bons cristãos,  inclusive - seguindo a máxima do "dai a César o que é de César", não é mesmo?) uma convenção na qual vários países tomaram parte, incluindo o Brasil.

Eu poderia entrar aqui em detalhes sobre papel de parideira da nossa sociedade machista-patriarcal, mas isso fica pra outra vez. O que achei interessante foi o artigo XXVII da mesma declaração citada: "toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo cientifico e de seus benefícios". Bom, os estudos com células tronco embrionárias estão aí, já foram aprovados em alguns países (como na Alemanha, por exemplo). Será que um ferrenho defensor da "criança" desses embriões in vitro será capaz de recusar o transplante dessas células para a cura de uma doença grave em si mesmo ou em alguém importante para ele?

Uma das fotos da campanha que vê a mulher que provocou um aborto - muitas vezes mal sucedido, levando a infecções, esterelidade e até a morte - como uma criminosa "vagabunda".


Imagem do Opera Mundi.

6 comentários:

Eduardo R. V. disse...

Mas até que período de desenvolvimento o aborto poderia ser feito?

Essa é minha maior dúvida quando o aborto.

Docinho disse...

Então, Eduardo... Os médicos, nos países onde o aborto é permitido, afirmam que até o 4º mês de gestação, o sistema nervoso (central e periférico) ainda não está completamente formado, tendo como consequência a ausência de dor na interrupção do desenvolvimento. Se você for ver pela própria embriologia, até a 9ª semana não é nem chamado de feto ainda, e sim de embrião (ao contrário do que dizem os dogmas religiosos). Mas aí está o "x" da questão: sua dúvida é em relação a biologia/embriologia ou a religião? Abraço.

Eduardo R. V. disse...

Eu não tenho religião e não acredito em deuses. Pode me chamar de ateu, agnóstico ou cético. Mas eu até preferiria ter uma religião, dizer não sem pensar muito o assunto parece mais fácil.

Quatro meses parece demais. Um mês, para mim, já estaria de bom tamanho.

Docinho disse...

É complicado, Eduardo. Mulheres de amigos meus e algumas conhecidas somente desconfiaram que estavam grávidas após mais de 4 meses! (uma que morava na Austrália, inclusive, não pode abortar porque os 4 meses permitidos por lei já haviam passado). Agora pense naquelas mulheres/meninas que são estupradas... Não deve ser fácil contar à família tal fato, sem falar que podem ficar meses em choque emocional. Qual seria a solução?
Sem falar que com 1 mês o embrião ainda não entrou no chamado "desenvolvimento fetal".
Abraço.

Bruna Bozano disse...

Oi Docinho, parabéns pelo conteúdo do seu blog. Bora fazer a diferença nesse mundo virtual onde só se fala de batom e sapato né? gostei dos temas abordados. Sou cristã, evangélica e mãe de dois filhos, mas sou a favor sim da legalização do aborto no Brasil, até o 3º mês de gestação. Após isso não concordo, mas não julgo. Acho melhor uma mulher abortar do que jogar um recém nascido na lixeira, com frio e fome, infelizmente, como citei no Bruunbabi, vivemos em uma sociedade hipócrita onde todo mundo é cheio de "bondade e calor humano", mas muito poucas pessoas estão dispostas a ajudar uma mãe que não tem o que dar para seus filhos comerem. Ou seja: engravidou, se vira, dá a luz e se não tiver como sustentar, deixa virar bandido. Eu ainda acho que podemos evoluir.

BEIJOKAS.

Docinho disse...

Oi, Bruna! Obrigada pelo comentário e pelo interesse nesses assuntos "polêmicos", digamos. Eu também gosto de assuntos "de batom e sapato" (haha), mas a vida não se resume a só isso, não é? Seria mais fácil se sim, mas não :)
Às vezes pode parecer que eu odeio religiosos, mas não. Só não gosto de pessoas egoístas e fundamentalistas ("xiitas") demais. Não sei de que seção evangélica você é (pois existem muitas seitas), mas parece que aquele bispo Macedo estava apoiando, pelo menos aqui no Mato Grosso do Sul, o direito de decidir das mulheres. Não sei das reais intenções dele, mas o fato é que essa postura pode ajudar muitas mulheres - que antes dos fetos, são criaturas vivíssimas e que muitas vezes sofrem violências que resultam em gravidez. Na minha opinião, é maldade condenar uma mulher (ou menina) a ter um filho que se sentirá rejeitado antes mesmo de nascer (e como você falou, depois fica largado por aí sem condições dignas de sobrevivência). Quanto a poucas pessoas dispostas a ajudar uma mãe a alimentar seus filhos, é um assunto delicado. Por ser brasileira, fico indignada pelo Estado não suprir essas necessidades, já que pagamos MUITOS IMPOSTOS e por não ter medidas eficientes de controle de natalidade. Quando vejo uma criança com fome, ajudo mas medidas paliativas não resolvem a situação, infelizmente.
Mas enfim, também acho que podemos evoluir, mas um dia...